domingo, 25 de março de 2007



Convite para estréia do espetáculo Ontem à noite fiz minha garota chorar em 15 de agosto de 2003. Primeira direção de Joeli Pimentel. Primeira peça que pode ser considerada com a marca da Cia Desencontrários.



A arte é de Aline Abowsky e as fotos de Cau Vianna.

Texto de Joeli Pimentel sobre a montagem.

“Quase sempre utilizo em minhas peças um ambiente fechado. Confesso que ultimamente venho tentando sondar mais de perto os calabouços da alma humana. E como diretor procuro direcionar essa pesquisa para o trabalho dos atores, para auxilia-los nessa procura, já que os personagens que escrevo são todos de composição. Para que no decorrer da trama eles consigam que ela se feche ainda mais. É uma maneira de encurralar a personagem e praticamente força-la a sair da sua bolha para tomar uma decisão. Esses ambientes caustrofóbicos, levados ao espaço físico do teatro, acho, que quase dá para criar a mesma sensação de aprisionamento psicológico da personagem. Uma espécie de metáfora para o mundo de competitividade, stress e pressa que vivemos. Ontem à noite fiz minha garota chorar, é uma peça que um casal que apesar das suas diferenças, sociais, econômicas e culturais tentam viver sobre o mesmo teto. Ziza e Naldo são artistas, que como tal, lidam com as emoções, e muitas vezes não conseguindo lidar com essas emoções, tudo desaba. Então eles são obrigados a se encarar, mesmo com todo o conforto eletrônico, chega um momento que não dá para suportar, é como um cachorro preso, mas que foi acostumado a sair de casa para passear todo fim de tarde e quando isso não acontece ele fica agoniado. É claro que isso provoca uma reação, quase sempre agressiva para com o outro. Você acaba se tornando cínico, desconfiado, cético. Daí começa a se afastar do outro pelo tédio que sentem, e pelo fim da admiração que tinha pelo companheiro que não supriu suas expectativa e agora foi se acabando, e o distanciamento que cada um, por vaidade ou egoísmo, vai tomando conta da relação, até destruí-la por completo. Gosto de estórias que mostrem o ser humano em estado bruto, longe dos papéis que representamos no dia a dia para os outros. Só somos nós mesmo, acredito eu, quando estamos no aconchego do nosso lar. É nesse ambiente tranqüilo cheio de segurança, o único lugar onde as pessoas fazem e falam o que normalmente não fazem em público. Nessa peça falo de artistas, (atriz e dramaturgo) essas pessoas que lidam diretamente com as emoções e muitas vezes frustradas por não conseguirem vazão para o seu talento e um devido reconhecimento, perdem o contato com a realidade, levando muitos ao mundo da insanidade por serem diferentes, por terem uma alma irrequieta e contraditória. Então acabam vivendo na contra mão do mundo.”

Vale lembrar que havia acontecido uma pré estréia a meia noite em 4 de julho de 2003.

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